26/10/20

Da 5 quê?

 Vamos lá meter o dedo na ferida. O último filme de Spike Lee Da 5 Bloods não é lá muito bom, pois não?

É deveras experimental, é certo, mas muitas peças não encaixam neste chamado "filme".

Indo por partes, as transições de presente para passado usando a manipulação dos aspect ratio é fuido e coerente, ajudando a que a outra escolha criativa de contar os flashbacks se torne imediata na identificação de cada soldado (os actores do presente são os mesmos no passado, um pouco reflectindo aquela ideia das lembranças pessoais, de como "nos lembramos dessas memórias")


Facilitismo? Não foi por aí. A banda sonora é uma manta de retalhos, com melodias que não se coadunam com as situações. Não falo da utilização das músicas de Marvin Gaye, mas da "orquestra" que pintalga ao acaso cenas de guerra ou momentos de tensão como se fosse uma romcom. Nada a ver.

Mau de ver foi também algumas sequências entre os actores, notando-se a léguas que foram de primeiro take. Tudo fingido e teatral. Propositado? Não sei. Mas não cai bem.

A edição salta momentos chave, sem ficarmos a compreender como ali chegaram. Há uma óbvia falta de cenas de ligação.


Por outro lado, completamente ocasional, é admitirmos que é aterrador vermos Chadwick Boseman naquele papel, já com um passo no modo etéreo (eternal?) e deixando um vazio angustiante pelas comparações óbvias com a realidade. Esperemos que não haja por isto uma apetência da Academia de dar um Óscar póstumo só pela comparação e tributo gratuito. 


Finalizando, Spike Lee tem uma forma própria de contar histórias, usando uma linguagem distinta de uma cultura própria, por vezes até documental. Mas isso não invalida que se façam erros grosseiros de Cinema para contar essas histórias.

BlackKklansman resultou que nem ginjas, outros que gostei de ver foram Summer of Sam e The 25th Hour.

E voltando a isso, Spike Lee não é para todos, quanto mais Da 5 Bloods também não o seja.



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