26/05/09

Cinepédia - BOX-OFFICE

O cinema está repleto de expressões invulgares, de uma gíria cinematográfica, vulgo calão. Os artistas e críticos acabam invariavelmente por classificar os clichés cinematográficos com vocabulário...
O uso constante destes engenhos narrativos veio a criar a Cinepédia.




Box office
Dá-se início deste mês a “silly season” (que se regista entre o primeiro fim de semana de Maio e a primeira segunda-feira de Setembro), que com isso aparecem os blockbusters devoradores de bilheteiras. Grandes orçamentos, enormes estratégias de marketing e uma avalanche de campanhas publicitárias para tornar o seu filme mais visto que o do vizinho.
É portanto inevitável hoje em dia não acompanhar o vocabulário anglo-saxónico usado nestas andanças, contextualmente intraduzível para português.

O box-office traduz-se pelo montante total de receitas de bilheteira conseguidas por um filme durante a sua exibição em salas de cinema. Abreviado de “B.O.” e conhecido também por “gross”, varia de alcunha dependendo do rendimento de cada obra, nas tabelas milionárias: Em caso de sucesso, expressam-se por “click” ou “sleeper” (no caso de sucessos inesperados). Se um filme se tratar daqueles filmes impossíveis de falhar e resultar em tremendos proveitos monetários, ele passa a chamar-se de “cash-cow” (relativo a “vaca sagrada”). Essa “cash-cow” passa a criar uma nova franchise, muito na moda estes últimos anos... Essa franchise gera outros filmes de sucesso (sequelas, spin-off’s e mesmo merchandise) para se registarem produtos de igual ou maior êxito, tudo em bom nome do dólar.

Como os lucros nos Estados Unidos se contabilizam em milhões de dólares (e não em número de espectadores, como seria lógico), a barreira psicológica torna-se ainda mais pesada, com as inflações a elevar os montantes. Mas também a alegrar as companhias graças aos óbvios recordes de bilheteira batidos (devido a essa mesma inflação). Acontece então que tanto os orçamentos de produção aumentam como também as receitas de bilheteira desses filmes, em caso de adesão.

Em economia e gestão, o termo “break even” usa-se para explicar o ponto em que custos e receitas se igualam, quando não há nem prejuízo ou lucro. Se um filme que custou 100 milhões acumular esses 100 milhões em salas, então atingiu o tal “break even”. Exemplo maior é o de Titanic, caso em que os produtores alarmados com o custo da obra de 200 milhões, planearam um lançamento com o objectivo de atingir o “break-heaven” e assim evitar os prejuízos. É sabido que Titanic não só atingiu esse patamar, como o triplicou, para regozijo dos investidores. Nesse ano antes da estreia, o filme de Cameron era já erradamente e de forma precoce apelidado de prejuízo. As conclusões precipitadas deram lugar ao sucesso conhecido e assim afastar as obrigatórias alcunhas dos falhanços de box-office: Bomb, Turkey, Flop...

Estes casos, normais a cada ano que passa, têm diversas explicações. Desde pura e simplesmente se tratar de um mau filme (Ishtar), de um elevado custo da obra interferir com o menor ganho final (grande exemplo, o de Waterworld) ou o confronto directo com uma estreia mais forte (como o erro de estrear Last Action Hero uma semana depois de Jurassic Park)...

Mas há-os que dão a volta por cima, como Waterworld e Kingdom of Heaven que conseguiram posteriormente ultrapassar o fracasso comercial graças ao VHS e DVD, respectivamente. Invariavelmente, há sempre algumas épocas piores que outras, que permitem que algo corra mal nas bilheteiras. É um “Box office slump”, ocasião em que um grande número de blockbusters de maiores dimensões falha no box-office, resultando num decréscimo acentuado nos valores totais do final do ano. A média de cada ano vem subindo regularmente, sendo que por alguns anos a tendência se quebra por motivos diversos.

Claro que é relativo falar em receitas e prejuízo quando não incluímos nas contas o mercado internacional, o lucro dos DVD’s, direitos televisivos e qualquer outro mercado capaz de acumular lucro. Porque os grandes distribuidores e verdadeiros gestores de bolsa, esses, nunca ficam a perder...




Saiba também que...
Nichebuster

Caracterizado por um filme de proporções mínimas (em orçamento, marketing e planeamento) que tem como objectivo alcançar o seu público-alvo, o seu pequeno “nicho de mercado”. Não é intenção de alargar para um conceito mainstream ou de o promover entre o público geral. É o oposto de Blockbuster.


Artigo originalmente publicado na TAKE nº3, Maio 2008

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Excelente explicação mesmo!

brain-mixer disse...

Tiago, obrigado ;)
(Já conhecias a Cinepédia da Take, ou nem por isso?)
Cumps