Está para estrear em breve mais uma adaptação das histórias de Robin Hood.
Ainda há alguns meses, Sherlock Holmes deu que falar, com o seu peculiar estilo nada subtil, a desistir da imagem snob e cavalheiresca de filmes mais antigos.
Numa adaptação, ser fiel ao material original é crucial para manter as massas críticas apaguizadas. Vale também ser recebido de braços abertos pelos fãs mais hardcore. Porque criar uma nova versão de um clássico é uma proposta perigosa.
Por um lado, num formato de sucesso, a produção tem a garantia de que já existe um público já estabelecido. Por outro, há a certeza de que a primeira reacção desse público será odiar tudo antes mesmo de ver o resultado. Foi assim com diversos exemplos, alguns deles incluídos na lista que se segue. Dando relevo às adaptações dos últimos anos, destaco as mais significantes.
Entre origens literárias, televisivas e de videojogos, as que mais recaem riscos na sua adaptação são de origens de Banda Desenhada. Numa época onde os super-heróis estão mais na moda como nunca, o passo a dar é medido com cautela.
Fanáticos extremistas. Não se apoquentem. A solução é clara: Agarrem-se à fonte inspiradora. Aos clássicos. À nostalgia. Às origens. Tudo o resto, encolham os ombros...
Transformers
Michael Bay foi o inimigo público nº 1 no dia em que vazaram as primeiras imagens de artes conceptuais dos populares Autobots. Mais que a ausência do Carocha, foi um Optimus Prime irreconhecível que levou os fãs de Transformers à fúria total. Um modelo de camião totalmente diferente (eles importam-se mesmo com isto?) e umas labaredas a gritar “foleiro” em toda a chapa, deram o mote para um conjunto de reacções catastróficas pela net fora. Os palavrões não serão reproduzidos, mas a figura de Bay não ficou lavada após a acalmia. Mesmo depois de justificar a troca de carroçaria ao Bumblebee (que achava que um VW Beatle iria lembrar demasiado o Herbie), Bay teve de suar para agradar no final da meta.
Afinal de contas, ainda se ficou a rir com os milhões e com a agradável reacção do público ao ser saudado com um excelente 'entertainment'. A sequela, já essa, foi outro filme...
Spiderman
James Cameron esteve bastante tempo agarrado a esta adaptação, desvendando um argumento com algumas soluções para o aracnídeo: No filme de Sam Raimi, aproveitaram a ideia de que Peter Parker teria teias orgânicas saindo-lhe das mãos. Era uma ideia lógica de Cameron, já que lhe custava acreditar que um adolescente de liceu pudesse criar aquela engenhoca mecânica altamente complexa que se vê na BD. Os fãs estranharam mas aplaudiram a ideia. Como diz o filme, "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Grandes mudanças também, o que quer que elas impliquem.
Watchmen
SPOILER!
A morte e a catástrofe é representada de modos diferentes. Aqui, num formato totalmente diferente, mas recebido com algum à vontade por parte dos fãs. Se uma lula gigante tornaria ainda mais estranho um filme já por si difícil, foi com normalidade que se aceitou a sua troca por uma resolução mais, digamos, científica. A explosão faz algo mais coerente numa narrativa desenvolvida muito sobre os Guardiões, logo seria coerente aquela “coisa” surgir deles próprios.
Pelo menos, uma árdua adaptação que resultou em paz entre as duas trincheiras.
Inspector Gadjet
Um carro que fala? Já esta barbaridade bastava para terminar este parágrafo. Mas desvendar o rosto do vilão, dar ao filme um tom histriónico que não se via nos desenhos animados e tantas outras diferenças retiradas de um mundo slapstick e puramente infantil é abusar da paciência dos fãs de todo o mundo.
Senhor dos Anéis
A adaptação foi dura. Apesar dos três filmes e das 9 horas de fita (12 nas versões alargadas), houve quem se queixasse de faltarem elementos importantes: São retirados os episódios de Tom Bombalbil, do Pai Maggott e dos Galgads.
Porque o que lhes mais dói é ser acrescentado um romance entre Aragorn e Loryen (para cativar público feminino, diziam eles), porque nem só de guerras e morte se faz um épico...
Mas a luta entre Gandalf e o Balrog, inexistente na saga literária, deu um outro ar de sua graça nestes festins cinematográficos. Ou a mudança do confronto entre Frodo e a aranha gigante para o terceiro filme (presente no segundo volume literário).
Apesar das mudanças, todos aclamaram esta saga como perfeita. A limpeza nos Óscares pelo Regresso do Rei é reflexo disso mesmo.
Daredevil
Mesmo sendo de aparência caucasiana, decidiram escolher Michael Clarke Duncan, que se assemelha à estatura intimidante do vilão. Kingpin foi sempre retratado como branco, no material original, mas não foi razão para não poderem romper com factos estabelecidos nos desenhos. Em Iron Man temos um caso semelhante, com Samuel L. Jackson na pele de Nick Fury, exactamente o mesm caso... E alguém duvida de que essas mudanças não interferiram com o aspecto da obra? Por mim, venham as revoluções!
Constantine
Uma Banda Desenhada mais "marginal", menos popular que as Marvel's que pululam o quotidiano popular, deu origem a um filme levemente inspirado na narrativa. Se em Hellblazer trocaram a cabeleira loira de Constantine por uma escura à la Keanu Reeves e ninguém se importou com isso, tal acalmia não aconteceu com outra figura com mais de meio século de existência que falo já de seguida:
James Bond
Foi com pompa e circunstância que anunciavam o novo actor a desempenhar o papel de 007: Daniel Craig iria aparecer como agente secreto em Casino Royale.
Mas a Internet pegou fogo. Entre alguns a criticar o aspecto brutamontes, cromagnon e falta de charme do actor, houve outros a vociferarem por um pequeno pormenor: Ele é loiro!
Mas todos nós sabemos como tudo isto terminou, com meio mundo rendido com o reboot.
Mission: Impossible
No filme temos de quase tudo: A missão (quase) impossível, a mensagem que se autodestrói em segundos, as máscaras faciais, enfim, tudo o que marcava a série dos anos 60.
A adaptação de Brian de Palma pega em alguns dos protagonistas da clássica série e despacha-os logo no início. Os que restaram, afinal, são todos vilões. Mesmo Peter Graves, o líder do grupo, é o maior patife do filme... Bleh... Twist à la de Palma.
E o herói, esse, nem existe na série original. Ethan Hunt é um produto da era Blockbuster.
Starsky & Hutch
Se os produtores mantiveram o icónico carro e os seus penteados, o resto não foi bem assim. O género deixa de ser uma série policial, à boa maneira dos Buddy movies dos anos 70', aqui é apenas um veículo para as palhaçadas de Ben Stiller e o seu inseparável amigo Owen Wilson. O casting até que foi inspirado, mas o estilo poderia ser algo mais sério e rude. As comédias de acção não precisam de ter "mode ironic" a toda a hora.
Código DaVinci
Para o Best-seller de Dan Brown, as semelhanças são até mesmo demasiado semelhantes, passe o pleonasmo. A igualdade do livro com o argumento foi tal, que tornou impraticável qualquer visionamento a determinadas sequências explicativas da obra.
Apesar de ter algumas modificações: Na perseguição automóvel, Robert Langdon é o perito da condução. Ah, no livro ele é canhoto e não sabe conduzir... Ok.
Mas aprenderam a lição, com Angels & Demons a modificar algumas cenas com maior dinamismo (e explosões à mistura). Uma queda de 10 metros? Não basta. Expludam-lhe o carro, que em cinema resulta bem...
Dragon Ball
O momento alto do século (é ainda pequenino mas em 10 anos foi mesmo alto!) dá pelo nome de Dragon Ball. Vá, Evolution, como eles querem que lhe chamemos. A má língua foi tal que chegaram a reformular diversos aspectos do filme após o lançamento do primeiro trailer:
Tartaruga Genial não tem óculos de sol, nem barba e não é careca!
Satã não veste o mesmo uniforme que na animação. OK, é design Kitch totalmente dispensável... Mas no trailer ele nem sequer é verde!! Sim, ele acaba por aparecer bege no filme (pois, como os tectos), mas a indignação dos fãs fora total e com a estreia veio o “Ufa” (e um enorme “Blargh”).
Houve leves modificações, como a racional eliminação de seres com feições animais falantes, o impossível cabelo azul de Bulma (apesar de lá restar uma madeixa), o Krilin não aparece mas tiveram a lata de lá pôr um outro melhor amigo de Songoku, tal como o Tem-chin-han e Chaoz estão ausentes. A façanha do momento ridículo surge quando é o momento de Songoku se transformar em Gorila Gigante (o tal de Oozaru), e damos de caras com um lagarto extraterrestre (??!).
Mas o maior martírio para todos os fãs é constatar que Songoku anda na escola!(quando na verdade ele nunca estudou)
É uma Sopa da Pedra, entre incoerências e cinema série Z o filme afundou totalmente. Reboot? Essa palavra nunca fez tanto sentido...
Em jeito de conclusão, vamos esperar (im)pacientemente pela obra de Spielberg & Jackson derivada das aventuras de Tintin e ver o que nos vão oferecer.
6 comentários:
Muito bom este artigo, que daria pano para mangas que nunca mais acabaria.
O Nick Fury do Iron Man, está de acordo com a nova versão da personagem que surgiu nas páginas da BD (Ultimate?), onde ele tinha já sido refeito com semelhanças ao Samuel L. Jackson... e sinceramente não gostei do novo look do Nick Fury.
Parabéns pelo enorme apanhado de adaptações, que imagino virá a ter sequelas (só dos filmes Marvel e DC não falta matéria -X-Men, Punisher, Batman, etc para uma próxima)
Antes de mais, parabéns por mais um fantástico artigo.
Podia expressar-me sobre muitos, mas vou só falar de DBZ
A série foi a minha infância. Marcou-me como nenhuma outra e definiu certos aspectos da minha personalidade. Não consigo expressar por palavras o quanto adoro a série...
...E depois vem esta coisa aberrante, este escarro cinematográfico que alguns tem a coragem de chamar cinema. A horda de cretinos responsável por esta badalhoquiçe não teve quiasquer escrúpulos e só olhou ao dinheiro.
Nunca um flop foi tão merecido.
Agora já só falta empalar a equipa técnica e o elenco em paus a arder e fico fel... quer dizer, menos mal.
Abraço
ArmPauloFerreira, em princípio não tenho previsões de fazer uma "sequela" do artigo... Mas pode porventura ir sendo actualizado, acrescentando-lhe outros exemplos, quando a situação assim o exigir (tal como acontece com outros antigos artigos do blog).
Obrigado pela leitura e fico contente por teres gostado do que leste!
Jackie, já há algum tempo que andava para lançar este artigo, mas por falta de tempo para terminar alguns acertos, era deixado para diante... O blog já precisava de um artigo de fundo, daqueles que costumam "estrear" aqui no brain-mixer. Outros virão, não posso dizer com que regularidade, mas vai estando atento ;)
(Um pequeno deslise aconteceu com a moderação do teu comentário e rejeitei-o sem querer :S Acabei por cazer C/P do teu texto e assinar em nome 'sem link' desculpa por esse facto)
Abraço!
Sem problema ;)
Olha, posso deixar uma referência a este artigo no Cinemajb? Mais concretamente à parte do DBZ?
Abraço
JB é claro que sim!
Eu gosto quando o blog transborda fronteiras :D
Excelente texto! Apreciei principalmente o "destaque" ao aborto cinematográfico que deu pelo nome Dargon Ball Evolution... foi a minha maior decepção da década :-(
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