03/08/15

Vocábulo cinecalão #1

Inicia-se uma nova rúbrica no blog, desta vez em colaboração com diversos cinéfilos da blogosfera nacional.
Colaboração? Sim! Eles escrevem, eu ilustro!

A ideia é criar um novo vocabulário para os cinéfilos sedentos de palavreado brejeiro, ou apenas em modo pseudo-crítico. Querem escrever críticas cinéfilas à trolha? Então 'bora lá aprender.

O primeiro convidado é o mítico Pedro Cinemaxunga.   Enjoy.



Ficar a fatiar fiambre
 Expressão para quando o cinéfilo vem para o Facebook perguntar “Hey amigos, acham que deva ver este filme?” e entretanto gera-se uma conversa cuja duração excede a do próprio filme. No final o sujeito acaba por não ver o filme e por não ver enriquecida a sua experiência cinematográfica e fica com uma sensação de vazio equivalente à expressão “O que ando eu a fazer com a minha vida?”.

Exemplo de utilização:
“Em vez de ter visto o filme, fiquei a fatiar fiambre até à uma da manhã. A minha ex-namorada tem razão, sou um merdas.” 





Filme Boff 
É um desabafo, dito num respiro que significa indiferença ou leve desprezo. Em contexto cinéfilo é usada para descrever um filme tépido, que não aquece não arrefece, que promete ser bom e depois só nos faz perder tempo que podíamos gastar noutra coisa. É um filme que se esquece rapidamente. Ao contrário de um filme verdadeiramente mau, que se apega ao nosso cérebro como um trauma de infância. Expressão de origem francesa.

Exemplo de utilização:
“Don’t Swing With my Monkey 5 é um filme boff” 




Alienígena Escaganifobético 
 Filme de delirante bizarria sem referências ou clichés que o amarre a um género ou a outro filme conhecido. É lançado no circuito mainstream para tentar criar um novo sub-género de sucesso onde antes havia um nicho. São filmes que, quer se goste quer não, todos se sentem compelidos a ver, como se nos fosse acenada uma luz do Além com promessas de vida eterna. Uma das expressões mais comuns quando se vê um destes filmes é “Quem é que autorizou isto? Ainda gostava de ver a ata da reunião.” Normalmente é um filme que se vê sem piscar uma única vez os olhos e alucinações pós-filme não são incomuns.

Exemplo de Alienígenas Escaganifobéticos:  
Hell Comes to Frogtown (1988), The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension (1984), Space Truckers (1996), Tank Girl (1995), John Dies at The End (2012) ou ainda Rubber (2010). 
Nota: Não confundir com Alienígenas Alucinogénicos como Naked Lunch (1991), The Holy Mountain (1973), Gozu (2003) ou Hausu (1977).




Toca Toca Béu Béu 
Termo usado para classificar o tipo de conhecimento de cinéfilos, maioritariamente jovens, que parecem conhecer e compreender vastas cinematografias mas quando se lhes pede uma opinião verdadeiramente pessoal e derivativa gaguejam porque tudo o que sabem veio da Wikipédia. Às vezes nem vêem os filmes todos e fazem batota com sites de resumos e textos de notáveis críticos. Costuma ser malta de faixa etárias abaixo dos 25 anos, vestem roupa de malha e são estudantes de artes. Os exemplares do sexo feminíno são vítimas do rumor de que descuram a sua higiene púbica.

Exemplo de utilização: 
- Epá, aquele miúdo sabe tudo de New Wave Soviético e Neo-Realismo Italiano! 
- Isso é tudo Toca Toca Béu Béu. Eu também tenho Internet em casa. 




Disco Night
Expressão para descrever aquele momento numa sessão de cinema em que um telemovel se farta de tocar e o cinéfilo, quando finalmente lhe pega, em vez de desligar fica a olhar para o ecrã de cara iluminada a decidir se atende ou não. Normalmente é música de Bob Sinclair. “Música”... Nota: Não se refere ao acto de atender, apenas de receber a chamada e ficar pasmo.

Exemplo de utilização:
- O filme foi bom? 
- Epá, nem te passa. Apanhei pelo menos três Disco Nights. Ainda por cima em partes importantes.

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