24/01/11

CINEPÉDIA - Horror

O cinema está repleto de expressões invulgares, de uma gíria cinematográfica, vulgo calão. Os artistas e críticos acabam invariavelmente por classificar os clichés cinematográficos com vocabulário...
O uso constante destes engenhos narrativos veio a criar a Cinepédia.





O cinema de horror sempre foi um género algo maltratado, reprimido e não muito reconhecido entre a classe artística. Tal como a comédia, nunca tiveram aquele espaço de honra que têm por exemplo os dramas e aventuras. Mas a essa margem, todo um movimento artístico foi tomando o seu devido lugar desde as histórias dos monstros da Universal até hoje. No presente, o terror assume-se não menos assustador, mas mais como algo visual. É o sangue que dita as regras do jogo.


Splatter Mais vulgarmente conhecido por gore, é um tipo de filme focado em conteúdos sangrentos e violência gráfica. Através dos efeitos especiais, é no resultante visual que as obras pretendem transmitir o seu forte: Sangue e tripas. Perturbar a mente vulnerável do espectador, mostrando mutilações e cenas de torturas do modo mais chocante. Mas se estes filmes são marginalizados pela sociedade em geral, não deixa de ser um bom motivo para através dela transmitir a sua mensagem social e o seu conteúdo artístico enquanto movimento radical. Enquanto uns se animam em apontar o dedo a todos nós (George Romero e a sua série de filmes ‘zombie’), outros interpretam a liberdade sexual juvenil como uma boa razão para a tensão repelida dos assassinos na sua vingança para com a sociedade (Como a saga “Sexta-feira 13”). Holocausto Canibal abriu caminho. Logo depois Sam Raimi e os seus Evil Dead, ou recentemente Robert Rodriguez com o seu excerto Planet Terror deram a entender com o jorrar de litros de sangue o porquê do terror vestir de vermelho-sangue. Na verdade, os “zombies” nunca se dissociaram da palavra gore. Era uma forma de separar os terrores psicológicos dos que preferiam a hemoglobina como pano de fundo.


Splatstick
Quando o gore se torna tão excessivo que roça a comédia, ou mesmo arranca gargalhadas ao público. Alcunha dada a este tipo de obras com a junção dos géneros Splatter e Slapstick, este último um tipo de comédia física de origens do cinema mudo. Para perceber melhor o conceito, basta relembrar o Braindead de Peter Jackson, talvez o filme mais sangrento da história, apesar dos seus inúmeros momentos de comédia.


Slasher
O tipo de terror mais desgastado da actualidade, não havendo paciência para repetitivos modelos de estrutura narrativa. Normalmente produções baratas e destinadas a adolescentes famintos por emoções fortes, que garantem muitas mortes e gritos. Como é usual e cliché oblige, essas mortes surgem sem efeito de suspense pelas mãos de um serial-killer com uma arma branca. Habitual é também seguirem-se repetitivas sequelas (muitas), mudando-se o elenco mas mantendo o assassino-que-nunca-morre. Quem não conhece o género, donde provieram as séries Pesadelo em Elm Street, Halloween, Texas Chainsaw Massacre, Sexta-feira 13 e agora mais recentemente Saw... Ao contrário das sequelas, os filmes originais combinam frescura com uma boa dose de sustos. Geralmente dão uns toques de gore, não sendo obrigatório serem classificados como tal. Produzem-se assim alguns clássicos do terror, apenas envergonhados pelo que se seguiu. Wes Craven e John Carpenter são dois desses nomes, respeitados pelo talento incutido em cada um dos iniciais. Outro primordial do género e um dos filmes absolutos do slasher film é Psycho, com outro realizador inquestionável ao volante. Hitchcock livraria assim as medidas do slasher dos tempos que viriam. Os restantes derivam do trash, série B, série Z e Grindhouse. Todos eles inúteis, mas também evitáveis.


Torture porn
Após o gore, o slasher e o terror não tinha mais onde se encostar, redefiniu-se um novo tipo de terror macabro. O sexo sempre esteve muito presente nestes géneros mas daqui para a frente a violência seria pormenorizadamente apontada para este tema. As antigas influências do Splatter acabariam por gerar uma nova onda de filmes derivados da nudez, tortura, mutilação e muito sadismo. Foi Eli Roth o principal impulsionador dessa moda. Hostel acabaria por puxar para os limites (se é que ainda os haverá) tudo aquilo que o cinema conhecia do horror. Já não seria apenas a morte após o sexo, mas envolveria a sexualidade nas cenas de tortura e mutilação num abuso de imagens gráficas difíceis de engolir. Seria o factor ‘voyeur’ e grotesco do espectador a fazer o seu trabalho (tal como alguém abranda no trânsito para ver um acidente).
Saw viria a gozar dessa popularidade, com banhos de sangue incompreensíveis para a generalidade do grande público. Tende a banalizar a violência como produto de consumo e um meio de vender a vulgaridade visceral no mercado. Apesar de títulos como The Devil's Rejects, Wolf Creek e Ichi the Killer se inserirem neste pacote, distanciam-se moralmente dos dois exemplos anteriores por não receberem um lançamento em salas tão alargado e por terem orçamentos de produção muito mais reduzidos.
A título de curiosidade, este género acabou também por receber uma alcunha. A combinação de gore com porno vem rotulá-lo de gorno, num portmanteau sugestivo que fica no ouvido.


Carnography
Do latim “carnis” (carne) e do grego “grafi” (escrita), cria-se um neologismo que identifica qualquer obra que contém material violento e excessivamente sangrento, usando-se das técnicas do torture porn. É também por vezes referido de violence porn.


Splatterpunk
Quando a ficção de horror se ia distinguindo como violenta, carnal, hiper-gráfica e sem limites nos meados dos anos 80, cunhou-se este termo que referia o distanciamento do terror clássico e tradicional. Mais tarde, a expressão foi substituída por outra sinónima de sentido: O body horror seria então o género a seguir por alguns realizadores mais atraídos por esta vertente mais orgânica. Clive Barker e os seus Hellraiser seria o expoente máximo do corpo como sacrifício.



SAIBA TAMBÉM QUE...
Final girl/Survivor girl

Particularmente em filmes slashers há especificamente uma mulher que sobrevive ao massacre. Resta no final para o confronto derradeiro com o assassino, vencer e ficar para contar a história. Com particularidades similares de um filme para o outro, a virgindade era sempre associada a essa personagem. Seria normalmente mais inteligente, astuta e vigilante que os anteriores amigos já chacinados. Actualmente um cliché, foi uma das regras a seguir religiosamente na década de 80 até então. The Texas Chain Saw Massacre, Alien, Halloween, Friday the 13th e A Nightmare on Elm Street nunca fugiriam ao esperado. Mesmo Scream viria a terminar deste modo, apesar das explicações cinéfilas durante esse mesmo filme sobre o assunto.


J-Horror
O termo usado para designar o cinema de horror produzido no Japão. É notável pela sua temática em relação ao ocidente, focando-se no horror psicológico e na tensão acumulada. Envolve fantasmas, exorcismos e conteúdos baseados nas lendas religiosas locais.


K-Horror

Outro termo que resume o cinema de outro país oriental, a Coreia (Korea). Tenta distinguir-se do sucesso atingido pelos vizinhos japoneses. Contém os mesmos aspectos, temas e visual do J-Horror, mas aplicado nas regiões do seu país usando os seus próprios elementos culturais. O K-Horror tende a apoiar-se mais na angústia e sofrimento do personagem ao invés de abusar nos efeitos gore e sangrentos.

Artigo originalmente publicado na TAKE nº8, Outubro 2008

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