Colaboração? Sim! Eles escrevem, eu ilustro!
A ideia é criar um novo vocabulário para os cinéfilos sedentos de palavreado brejeiro, ou apenas em modo pseudo-crítico. Querem escrever críticas cinéfilas à trolha? Então 'bora lá aprender.
(convidados anteriores: Pedro Cinemaxunga, Hélder Almeida, Carlos Reis, Sofia Santos e Rita Santos)
A quinta (e última) participação é de Miguel Ferreira, do blog Créditos Finais.
Filmes Timbaland
Ao contrário dos filmes Cortiça (tão bons que só aparecem de 9 em 9 anos), os filmes Timbaland são obras que nos chegam frequentemente e envoltas num cocktail de reações. Sabemos que sim, sabemos que não, e justificamos a audácia com o facto de também precisarmos de um no brainer. Dizem que até se vê bem. Arrancamos com a coisa, e a coisa corre mal. Muito mal. Ridículo, mal feito, aos 20 minutos já olhamos para o relógio e pensamos naquele Kubrick que nunca vimos. Queremos parar. Queremos voltar. Mas é tarde demais. Nada a fazer, temos de respeitar as mitologias e mamá-las até ao fim. Para depois podermos ao menos pintar meia estrela no Letterboxd. O nome baseia-se na célebre canção dos OneRepublic com os ecos famosos de Timbaland, Too Late to Apologize, it´s too late….eh…eh…eh…
Exemplos: Vice, Need for Speed, Avengers: Age of Ultron, Transformers, qualquer live action da Disney
Caninar
Diz respeito ao ato de ficar em casa, sozinho, durante um período superior a três dias, com cueca larga, sem banho, a praticar a seguinte dieta cinematográfica: um filme de manhã, dois à tarde e três à noite. Adormecer no sofá, acordar com os tomates de fora – ou as mamas se for do outro género - e retomar o processo. Na grande parte dos casos envolve meticulosas maratonas, pensadas há mais de cinco anos. A expressão vem do filme grego Canino, onde três irmãos vivem desde sempre fechados em casa.
Exemplos: Estas férias vou caninar à bruta!; Estive o fim de semana todo a caninar, soube mesmo bem; Se descobrem que meti baixa para caninar estou fodido.
Cinebocellis
Os Cinebocellis são a extrema cinematográfica. Não têm fenótipo definido, nada de cabeças rapadas ou grandes rabichos na nuca, unem-se apenas na primazia do cinema, especialmente quando se trata de conflitos com a malta da televisão: os telepichões. Estes, são os seus grandes inimigos, e se os primeiros só vêm cinema, os segundos só vêm televisão. Encontram-se esporadicamente para grandes batalhas campais como no início do Gangs of New York. Aqueles que gostam das duas coisas formaram uma terceira fação que não tem grande piada: as Pessoas.
Exemplo de um diálogo entre Cinebocellis:
Cinebocelli 1 – Ontem vi metade de um episódio, fiquei tão mal que tive de ir fazer uma lavagem ao estômago ao Garcia da Horta.
Cinebocelli 2 – A mim também já me aconteceu, mas fui ao Santa Maria.
Cinebocelli 3 – A mim também, mas só me cabritei em casa.
Cinebocelli 4 – A mim também, até já escrevi sobre isso na minha crónica em papel num jornal em papel. As séries são mesmo uma merda, não têm fim.
Cinebocelli 5 – Nunca vi uma série até ao fim, mas concordo que são uma merda. Todas iguais, sem toque de autor. O cinema é que é bom.
Cinebocelli 1 – Não percebo como a escumalha consegue ver séries, que nojo. Porque é que não são todos como nós?
Cinebocellis em uníssono – Ah ah ah ah ah ah ah ah!
Julie Gianni
Aquela miúda maluca que aparece pelo menos uma vez na vida de um gajo. Ao início é normal, até se pondera, pode pintar um beijinho. Depois começam os apertos, quer casar, aparece atrás de ti na biblioteca e se olhares agora pela janela lá está ela. Veio passear para estes lados, por acaso. Ou saltas fora ou já foste. Creepy. O seu nome é em homenagem à personagem de Cameron Diaz no Vanilla Sky, é ela que rebenta com as fuças do nosso herói. Não se ponham a pau não.
Exemplo:
- Ontem à noite ela disse que me amava.
- Mas conheceste-a ontem à tarde.
- É esquisito não é?
- Não é esquisito amigo, é Julie Gianni.
Simbalhada
Quando um blogger desaparece durante um período indeterminado de tempo e depois regressa diz-se que executou uma simbalhada*, como o Simba, que fugiu, hakuna cenas e voltou. Normalmente são pausas que servem, na prática para nada, mas para o blogger são profundos momentos de reflexão, transformação e evolução. Tudo voltou a fazer sentido. Ou então voltou só a ter tempo e paciência para esta merda, também é possível.
*não confundir com simbalhada: ato de bocejar abrindo em demasia a boca, que nem um leão.
Exemplo: Consultar “O Grande Livros das Simbalhadas” que regista, desde 2001, todas as simbalhadas praticadas por todos os bloggers nacionais.
Comédia pena-sovaco
É aquela comédia em que temos de levar obrigatoriamente companhia, para que a mesma consiga, com a ajuda de uma pena, fazer-nos cócegas no sovaco de modo a que possamos rir nos momentos em que é para rir. Normalmente somos arrastados para as comédias pena-sovaco, na maior parte dos casos pela pessoa que depois terá a responsabilidade de nos tocar nos sítios certos e libertar as certas gargalhadas.
Exemplos: Tudo do Kevin James.
Sequelas Lidl
São aquelas sequelas que mantêm o nome, a personagem, mas mudam tudo o resto, inclusive o protagonista. Normalmente com menos dinheiro e com o destino direto para vídeo estampado na testa. O objetivo é espremer as tetas da vaca até ela estar mais magra do que o Bale n’O Maquinista. Normalmente, vemos estes filmes e a sensação que temos é a mesma que aquela quando entramos no Lidl: é parecido ao Continente, tem empregadas em caixas, mas epá, tudo é diferente, outra timeline, menos organizada e com marcas que um gajo não conhece de lado nenhum. Como os atores falsos que povoam estes disparates. Normalmente só caímos numa sequela lidl, a que vier a seguir já não é para nós.
Exemplos: Ace Ventura: Pet Detective Jr., The Butterfly Effect 3: Revelations, Home Alone 3 e 4, Timecop: The Berlin Decision, Wild Things: Diamonds in the Rough, S. Darko, Hostel 3, Behind Enemy Lines II: Axis of Evil
Manobra “queijamais”
Executada quando alguém na mesa lança uma mitologia para debate. Uma saga com três capítulos dos quais apenas dois são dignos de se ver. O terceiro acabou mesmo por rebentar qualquer esperança na continuidade da história. Adeus esperança de vida. Então, e para defender o que é bom, temos a todo o custo de aplicar a manobra do queijo a mais, fingindo que só conhecemos dois filmes, que só existem dois e que o terceiro de facto não aconteceu. Ah e tal não sei não sei.
Exemplos:
- Terminator 5? Então mas só fizeram dois…
- Indiana 4? Qual é esse? Não estou a mesmo a ver…
- Alien 4? Também tens cada uma, então a Ripley morreu no três, como é que poderiam ser quatro?
Obrigado ao Miguel por aceitar o desafio ;)
E finda esta rúbrica que perdurou de duas em duas semanas por três meses, espero que os leitores tenham gostado. Volto a agradecer a todos os participantes, que estas coisas das Iniciativas conjuntas têm piada é com a malta colaborar. Sei que era difícil, complexo, por vezes confuso e de puxar os cabelos a quem teve de escrever, mas por isso o meu agradecimento é repetido até à exaustão.
Agora toca de usar este vocábulo todo em termos práticos (O Cinemaxunga já o semeia como gente grande, o visionário!)
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