15/10/05

Planos impossíveis

Mestria de realizador, perfeição de cinematografia, ideia arrojada passada em imagens. São os "Impossible shots"

Nos dias que correm já é muito fácil criar planos deste tipo, para isso basta recorrer ao CGI. Mas a criatividade e a capacidade de surpreender o espectador não está ao alcance de todos...

CONTACT
A câmara acompanha a sua aproximação ao espelho em travelling, quando num golpe de magia o espectador percebe que o que vê é apenas o reflexo da imagem real. Nessa altura, é como se atravessássemos o espelho.


PANIC ROOM
Um movimento sinuoso da câmara desde o terceiro andar onde se encontra Jodie Foster a dormir no quarto, descendo por aí abaixo e na cozinha penetrar em tudo o que uma câmara dita "normal" não pode entrar: Pela fechadura, uma asa de cafeteira, entre balcões e espaços exíguos, tudo isto num único plano contínuo. Escusado será dizer que para conseguir este (belíssimo) efeito recorreram ao CGI, ao criar todo o cenário em digital.


WHAT LIES BENEATH
Zemeckis é um chico-esperto em planos deste tipo de complexidade. Aqui usou o próprio chão para confundir o espectador: Quando Michelle Pfeiffer se debruça no chão para apanhar um conjunto de chaves, o ponto de vista é... Por baixo do próprio soalho! Um solo invisível, transparente como se fosse vidro.


POLAR EXPRESS
Zemeckis tomou-lhe o gosto e repetiu a piada. Neste caso, tal como no anterior, a folha do livro passa a ser "de vidro". Visto contrapicado, as palavras escritas flutuam no ar, entre a câmara e os olhos do miúdo (Neste mesmo filme, o chão invisível também aparece).


SECRET WINDOW
David Koepp já escreveu argumentos para filmes de Fincher e Zemeckis, um deles sendo o próprio Panic Room acima referido, logo aprendeu algumas lições com os artistas. Na sua primeira longa metragem (bem fraquinha por sinal) pôs em prática os conhecimentos adquiridos e criou uma sequência de abertura com o efeito de Panic Room e o de Contacto num só: Enquanto que a câmara vem do exterior para o interior da casa, passando pelo escritório, descendo as escadas em direcção ao espelho onde está reflectido Johnny Depp e entrar para o outro lado do reflexo. Uma revisão do género...


MATRIX
Aqui o efeito é bastante simples: De um conjunto de monitores que mostram o que as câmaras de vigilância gravam, a visão cinematográfica entra para dentro da própria televisão, circundando depois pelo cenário todo em redor de Neo, aka Mr Anderson.

19 comentários:

Anónimo disse...

Vi à pouco tempo na TVI o Panic Room e também me ocorreram esse tipo de planos...
Em alguns filmes passsam praticamente despercebidos mas noutros como o Panic Room são bastante perceptíveis até porque são usados imensas vezes ao longo do filme!
Ora mais um belo post Edgar! Isto começa a ser um blog sobre Twilight Cine :)
Um abraço!

Francisco Mendes disse...

"Panic Room" é um exercício incrível de realização. Fincher em grande! Aquele tipo de plano numa tela de cinema... WOW!!

brain-mixer disse...

André: Vi o Panic Room no cinema e tem imponência na grande tela. Aqueles movimentos...

Francisco: O Panic room foi o filme mais "prévisualizado" de sempre: Antes das filmagens, recorreram ao animatic (storyboard animado em 3D) para todo o filme... Não é para qualquer um.

O "Twilight" blog (eh eh) agradece a visita! ;)

brain-mixer disse...

Eu não estudei cinema (embora bem tentasse) mas tenho curso de Multimédia e Audiovisuais (se é que importa para alguém... :S) lol

Este blog é um pouco como um diário de arquivo, de coisas deste tipo que tenho estado a juntar desde os meus 9/10 anos, por aí. Ah e é claro que a Premiere dá uma grande ajuda na cultura cinéfila!

Coutinho77 disse...

Assim de repente só me lembro do "Three Kings" e dos planos inovadores vindos de dentro do próprio corpo de Mark Wahlberg.
Boa análise!
Abraço!

brain-mixer disse...

Membio:
Esse link já cá tinha passado pelos meus neurónios há uns tempos;) eh eh.

Coutinho77:
Também me lembrei desse(sim, é impossível) mas é um pouco flagrante, ou seja, topa-se a milhas o efeito. Não é subtil de modo a que o espectador nem se dê conta do plano... Outro que estive quase para juntar à lista foi o genérico inicial do Fight Club, cena em que começa dentro da narina de Edward Norton e vai saindo por ali fora. Não o incluí pelas mesmas razões que atrás referi, mas aqui fica a lembrança!

Jorge M. disse...

Bons neurónios. Evita a bebida para não os estragares. Podes continuar a passar no meu blog...Como a todos que estejam a ler isto!

brain-mixer disse...

É claro que vou continuar assim! Quando deixar de ter temas acabo com o blog, eh eh!
A bebida é que não consigo evitar de vez em quando :P

Unknown disse...

belíssima selecção :)

que delícia recordar cada um destes fabulosos planos !

gonn1000 disse...

Essas cenas de "The Panic Room" são de facto fenomenais, mas convenhamos que no geral o filme é do mais fraquito que o Fincjer já fez...

brain-mixer disse...

Concordo plenamente contigo, Gonçalo.

Anónimo disse...

De facto, há efeitos extremamente inovadores nestes filmes. E inovar é que é bom :)!

Cumps.

dermot disse...

Curioso, ainda há poucos dias estivemos no café a discutir este tema. Estavas lá? ;)

Deixa-me acresecntar o Mar Adentro, que tem um plano fantástico que começa desde o interior do hospital e percorre a Catalunha(?) em voo picado; e também o início do Psico, a génese destes planos inovadores :)

brain-mixer disse...

Esses planos-sequência são cada vez mais recorrentes e muito mais bem conseguidos visualmente. No Mar Adentro, apesar da história sem acção, Amenabar conseguiu criar uma obra visualmente excitante: Há outra cena, quando ele está deitado na cama olhando em seu redor no quarto, em que usaram o Motion Control - técnica em que a câmara em movimento se pode manipular o cenário e a sua interacção - aí, as pessoas que se deslocam pelo quarto estão em permanente movimentação e rapidez...

Anónimo disse...

Como é? Podes explicar melhor isso do Motion Control? Não percebi bem :P

Sam disse...

Uma das surpresas mais criativas que já vi num filme foi a sequência inicial de BLUE VELVET, de David Lynch.

A visão de insectos de tamanho desproporcional é um belo mote para o ambiente construído durante o resto do filme.

Belo post.
Cumps.

brain-mixer disse...

isso do motion control explica-se melhor observando o resultado final... Aqui não te consigo explicar de modo que se perceba muito bem :S

Um exemplo: Se tiveres o Bruce Almighty do Jim Carrey à mão, vê a parte em que ele se encontra com Deus pela primeira vez e ouve os comentários do realizador. Bem, se não tiveres o dvd, com uma pesquisa pela net acho que encontras alguma informação útil. E com imagens!


Sam, o início do Blue Velvet (a parte que tu referes) é a única que eu gostei... :( O resto do filme não me entusiasmou, fez-me lembrar alguns filmes à portuguesa. Enforquem-me se quiserem, mas este não é o filme mais indicado para descobrir Lynch.

dermot disse...

Hmm. Vou ter de rever o Mar Adentro então.

E deixa estar, também não sou grande admirador do Blue Velvet.

Unknown disse...

a perte inicial do Lord of War lembrou-me este post.