Mudar de género a meio do filme
Comédias, dramas, terror, westerns, ficção científica, acção... Os géneros cinematográficos são às dezenas e vão-se multiplicando cada vez mais (sub-géneros tipo zombies, serial-killers ou spoofs). Mas há filmes que não se mantêm apenas num deles. Não é de rompante, vai-se assimilando na narrativa e transformar-se em crescendo numa outra faceta de que nós não esperávamos desse filme. Não é um twist de argumento, mas um twist de género.
O mais usual entre estas películas é iniciar em tom de comédia, para depois mostrar a sua faceta séria. Os exemplos mais conhecidos seguem-se por ordem cronológica.
A Vida é Bela (comédia > drama)
Um dos mais difíceis de conseguir sem que haja lamechice... Há variadíssimos exemplos deste caso, mas nunca tão abismal como esta película de Benigni. O verdadeiro efeito separador que delimita cada um desses "lados opostos" é a utilização da banda sonora (fenomenal) à medida que a história vai correndo. Mas enquanto aceitarmos o jogo do pai para o filho no campo de concentração, deixamos de diferenciar a ténue fronteira entre comédia e a faceta escondida que realmente se irá desvendar.
Shaun of the dead (comédia > terror)
O filme começa lentamente mas os gags sucedem-se a um ritmo hilariante, visando como um spoof aos filmes de zombies. À medida que o bodycount vai aumentando, o gore, tripas e litros de hemoglobina enchem os últimos minutos do filme, deixando o humor britânico (por vezes nem por isso) de lado para revelar a devida homenagem aos clássicos máximos de George Romero.
Lord of War (comédia > Thriller dramático)
O argumento irónico que este filme pretende analisar parte sobretudo de uma tentativa de golpear a visão da política americana em relação ao tráfico de armas no mundo. Iniciava-se assim uma crítica soft e divertida de um tema importante. À medida que o personagem se vai adensando no tema, as dificuldades vão surgindo e a ética e moralidade vão estando em jogo, o clima fica mais negro, mais sério, mais emocional. Acabamos com a sensação de que não há motivos nenhuns para rir...
Kiss Kiss Bang Bang (comédia > Thriller)
O mesmo conceito de qualquer buddy-movie (mais um sub-género!), dois personagens antagónicos encontram-se e criam ligações que se vai desenrolar entre o divertido e a acção. Temas muito próprios e populares das fitas de acção dos anos 80, apesar deste recuperar a vivacidade desses mesmos ambientes mas dando um toque inteligente aos clichés usuais. No final perdura mais a pressão emocional que se impôs nos personagens (bastante credíveis) para deixar de lado as piadinhas do género.
4 comentários:
Ao ler o teu post recordei o filme "From Dusk Till Dawn" e daquele abrupto twist no bar!
Mas tens razão, os exemplos são cada vez mais, sendo esta uma "estratégia" que até agora me tem agradado particularmente!
Abraço!
Bom exemplo esse que deste. Pelo contrário, nesse caso eu esperava por um banho de sangue (tem marca Tarantino!) mas fiquei estranhamente admirado por todo o tom de comédia inicial :P
Começou bem, acabou ainda melhor!
O jogo de Lágrimas, por exemplo, muda de registo depois de desvendado o segredo. Gosto do teu blog, continua.
Abraço
O Atonement - Expiação - Começa como uma história romântica e depois uma "cunt" muda tudo... LOL
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